segunda-feira, outubro 18, 2010

Racismo e discriminação no meio de todos nós


Não importa como são definidos e caracterizados, racismo e discriminação constituem violações de direitos humanos. Não é uma questão de relação interpessoal nem são apenas hábitos da pessoa humana. São questões que estão incorporadas às práticas, às políticas e composições institucionais que levam um grupo de uma raça ou cor a estar em desvantagem e outro a gozar de privilégios
     Quando, em 1888, aconteceu a abolição da escravatura no Brasil, não foi em decorrência do desejo do branco em ver o negro liberto, mas de ver o país livre da vergonha de ser ainda o único país americano em manter a escravidão. A “Libertação” não foi uma dádiva, mas uma conquista dos próprios negros apoiados política e socialmente pelos abolicionistas. O negro liberto, no entanto, passou a ser negro marginalizado. Enquanto estrangeiros brancos recebiam centenas e milhares de hectares de terra, o negro se amontoava nos morros, pois sequer recebeu um terreno do governo brasileiro pelos seus 400 anos de serviços prestados.

Escravidão escamoteada     Os negros brasileiros têm sofrido, ao longo da nossa história, diversas formas de calúnias. A justificativa para tais acusações variou com o pensamento intelectual da época. O fato é que, no Brasil Colônia e no Brasil Império, não houve lugar para o negro no imaginário nacional português ou brasileiro. País que se queria branco, o Brasil se esforçava para realmente brutalizar os negros que importava da África como escravos e os que aqui nasciam. Sua tarefa e justificativa moral era civilizar pela disciplina do trabalho escravo; seu objetivo real era extorquir o máximo possível de trabalho ao menor custo. Poucos descendentes negros se contavam no pequeno espaço social reservado para o exercício da igualdade, da cidadania e da civilidade.     No nosso Brasil persiste uma mentalidade profundamente arraigada no sistema escravista/colonial. Em nome de uma “raça superior” já se cometeram milhares de atrocidades durante a história da humanidade. O escravismo é uma constante nos anais da nossa história. O Apartheid, o trabalho escravo, a disseminação indígena são provenientes de uma filosofia de superioridade racial. Enquanto homens se julgarem superiores, teremos necessariamente classes, raças, povos inferiores.
     A escravidão como prática em nosso país é profundamente disfarçada. Talvez não se venda mais o corpo do negro ou do trabalhador como outrora, porém, infelizmente, se negocia com a sua identidade, imputando-lhe uma “carga” de inferioridade e discriminação que fere tanto quanto a venda de seu corpo.
     Na sociedade democrática a conquista de direitos iguais propõe aos dominantes repensarem a sua “pretensa” superioridade. Um dos caminhos possíveis de desenvolvimento do processo de superação da prática do racismo é a educação escolar.
Direitos iguais? Melhor tivesse sido para o negro se no Brasil a discriminação racial fosse declarada aberta ou até oficializada. Assim, negros e brancos teriam se unido na luta contra o racismo, como o fizeram para o fim da escravidão, mas não pela igualdade do negro. Como isso não aconteceu, ingenuamente nem se lutou e nem se teve, até hoje, a tal igualdade de direitos, apregoados sempre nos primeiros artigos de todas as nossas constituições.  O reflexo da escravidão na qual o negro era tratado como animal, como um ser que não tinha alma nem sentimentos, ainda não foi totalmente transmutado na nossa sociedade. Por mais que se tente mudar esta imagem, há quem não consiga ver no negro aptidões intelectuais, éticas, religiosas e sociais iguais às do branco.
     Em síntese, a constatação simbólica se manifesta, no campo político, por ofertas igualmente simbólicas em relação às reivindicações do movimento negro. Tais ofertas vão desde a incorporação da cultura afro-brasileira à cultura nacional até a incorporação à ordem jurídica normativa das reivindicações políticas do movimento negro, tais como princípios constitucionais da não-discriminação e da integração socio-econômica dos negros. Sérgio José Both

QUESTÕES PARA DEBATE:
1 - Por que o racismo não é apenas uma questão de relações interpessoais, mas uma questão política e institucional?

2 - Você concorda que temos, no Brasil, uma “escravidão disfarçada”? Justifique.
3 - Que ações as pessoas, os governos e a sociedade precisam realizar para reparar a escravidão dos negros?

Fonte Jornal Mundo Jovem

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abraços Hernane Freitas

Cabral e as navegações portuguesas